segunda-feira, 29 de dezembro de 2014

"..Coisas simples que perdemos nessa marcha de uma evolução cega. Pode fazer tudo, desde que não interrompa a carreira, a produção. Tornamos-nos máquinas e agora estamos desesperados por não saber como voltar a "sentir", só isso, algo tão simples que a cada dia fica tão distante de nós.."
(Arnaldo Jabor)
Diariamente reuniam-se para assistir aos noticiários de tv e aguardavam a programação noturna como um ritual familiar. Entre eles havia muita proximidade afetiva e poucas palavras balbuciadas nos intervalos comerciais. Entretanto, tinham um pacto de cumplicidade que dispensava a quebra do silêncio. Em algumas cenas, todos coravam, mas sabiam da vida o bastante para entender que muitas coisas não deveriam nunca dizer.
(Ézio Deda)
Maria era também a folha em branco, barreira oposta ao rio impreciso que corre em regiões de alguma parte de nós mesmos. Nessa folha eu construirei um objeto sólido que depois imitarei; o qual depois me definirá.
Maria era também o sistema estabelecido de antemão, o fim aonde chegar. Era a lucidez, que ela só nos pode dar, um modo novo e completo de ver uma flor.. de ler um verso..
(João Cabral de Melo Neto)

quinta-feira, 11 de dezembro de 2014

É muito mais emocionante emergir das profundezas do que manter-se sempre no topo.
(desconheço o autor)
Contei meus anos e descobri que tenho menos tempo para viver daqui para a frente do que já vivi até agora. Tenho muito mais passado do que futuro. Então, já não tenho tempo para lidar com mediocridades. Não quero reuniões em que desfilam egos inflamados. Inquieto-me com invejosos cobiçando o lugar de quem eles admiram. Já não tenho tempo para conversas inúteis sobre vidas alheias que nem fazem parte da minha. Já não tenho tempo para administrar melindres de pessoas idosas, mas ainda imaturas. Detesto pessoas que não debatem conteúdos, mas apenas rótulos! Quero viver ao lado de gente que sabe rir de seus tropeços, não se encanta com triunfos, não se considera eleita antes da hora, não foge de sua mortalidade. Quero caminhar perto de coisas e pessoas de verdade. Apenas o essencial faz a vida valer a pena. E para mim, basta o essencial!
(Ricardo Gondim)
Contei meus anos e descobri que tenho menos tempo para viver daqui para a frente do que já vivi até agora. Tenho muito mais passado do que futuro. Então, já não tenho tempo para lidar com mediocridades. Não quero reuniões em que desfilam egos inflamados. Inquieto-me com invejosos cobiçando o lugar de quem eles admiram. Já não tenho tempo para conversas inúteis sobre vidas alheias que nem fazem parte da minha. Já não tenho tempo para administrar melindres de pessoas idosas, mas ainda imaturas. Detesto pessoas que não debatem conteúdos, mas apenas rótulos! Quero viver ao lado de gente que sabe rir de seus tropeços, não se encanta com triunfos, não se considera eleita antes da hora, não foge de sua mortalidade. Quero caminhar perto de coisas e pessoas de verdade. Apenas o essencial faz a vida valer a pena. E para mim, basta o essencial!
(Ricardo Gondim)
Tô precisando de um dia nublado e chuvoso.
Preciso do aconchego das nuvens baixas, carregadas de chuva.
Nuvens que rebaixam o universo, e fazem sombra na vida.
Ao invés deste brilho forte dos raios solares
desse céu azul, novamente, tentando me induzir
ao animo contagiante, costumeiro em fim de ano.
às vezes convém... mais que isso me cansa.
Me traga as nuvens negras,
o vento fresco,
as cortinas fechadas,
a janela embaçada..
o chocolate trufado
e um bom filme de suspense.
(Ramon Btk)
Mãe?...
Mãe não é aquela pessoa que apenas da a luz a um ser..
Mãe é aquela que realmente se preocupa com seu filho,
Mãe é aquela que da amor ao seu filho..
A pessoa que me deu a luz é uma legítima Mãe.
Eu te amo Mãe.
A minha alma partiu-se como um vaso vazio.
Caiu pela escada excessivamente abaixo.
Caiu das mãos da criada descuidada.
Caiu, fez-se em mais pedaços do que havia loiça no vaso.
Asneira? Impossível? Sei lá!
Tenho mais sensações do que tinha quando me sentia eu.
Sou um espalhamento de cacos sobre um capacho por sacudir.
Fiz barulho na queda como um vaso que se partia.
Os deuses que há debruçam-se do parapeito da escada.
E fitam os cacos que a criada deles fez de mim.
Não se zanguem com ela.
São tolerantes com ela.
O que era eu, um vaso vazio?
Olham os cacos absurdamente conscientes,
Mas conscientes de si mesmos, não conscientes deles.
Olham e sorriem.
Sorriem tolerantes à criada involuntária.
Alastra a grande escadaria atapetada de estrelas.
Um caco brilha, virado do exterior lustroso, entre os astros.
A minha obra? A minha alma principal? A minha vida?
Um caco.
E os deuses olham-o especialmente, pois não sabem por que ficou ali.
(Álvaro de Campos)
Repara bem no que não digo.
(Paulo Leminski)
A vida contém belezas tristes,
é cheia de angústias excitantes e
plena de chatices gostosas.
(Ricardo Gondim)
Um casal mudou-se para um novo bairro. Na manhã do dia seguinte, enquanto tomavam café da manhã, a mulher olhou pela janela e viu sua vizinha estendendo roupas. Imediatamente ela comentou com o marido: “As roupas não estão limpas, nossos vizinhos não sabem lavar roupa, quem sabe eles precisem de um sabão melhor!”.
Durante um mês eles comentaram sobre as roupas sujas dos vizinhos. Até que um dia a mulher olhou pela janela e viu a vizinha estendendo roupas impecavelmente limpas.
Então ela disse ao marido: “Nossos vizinhos finalmente aprenderam a lavar roupa, veja como estão limpas! Quem será que os ensinou?”.
Então o marido lhe disse: “Minha querida, na verdade fui eu que acordei mais cedo hoje e limpei a nossa janela.”.
Assim é a vida: aquilo que vemos quando olhamos os outros depende de quão limpas estejam as janelas através das quais olhamos. Antes de criticar e buscar algo no outro para julgar, quem sabe não seja melhor perguntar se não estamos prontos para um novo olhar.
(Ns Lourdes)
Minha crença é o GPS, o que me situa.
É a raiz, a base, o lar..
O cordão umbilical que me alimenta,
dentro desta barriga deserta, chamada mundo.
Sem ela sou uma criança desolada, que se perde de seus pais 
dentro de um grande supermercado.
(Ramon Btk)
Meu ofício, minha arte, é viver; quem me censura por falar de mim, da minha vida, dos meus próprios sentimentos, que vá proibir um arquiteto referir-se às suas próprias construções. Eu me mostro por inteiro, como uma peça anatômica, cujas veias, músculos, tendões, são visíveis em seus lugares, mas as pulsações e o que se passa dentro de mim, esses são eu mesmo. É sobre eles que falo, sobre a minha essência.
(Montaigne)
Maria não consegue dormir. Sua cabeça não para e a carne está inquieta. É noite de chuva. A televisão está ligada, mas todas as atenções estão voltadas à sucessão de ideias e imagens que passam pelo seu corpo. Pensa nos filhos que nunca existiram; no abandono que sofreu dos pais, ao ser doada para um família mais pobre que a sua quando tinha apenas onze anos; nos amores que recusou por medo; na perda, por puro preconceito, do único homem que realmente amou; nos vícios que acumulou; na repartição pública em que passa parte essencial da sua vida; no aborto da sua irmã adotiva; na morte de sua mãe biológica; na doença cardíaca do pai; na fobia constante que sente ao comer; na morte; na angústia de estar sempre só. A cabeça dispara. Parece uma metralhadora de acusações. Ela quer dormir. Não consegue calma alguma. Há alguns meses parou de tomar Rivotril porque domou a síndrome do pânico. Não tem mais nenhum comprimido nos armários. Na televisão passa uma sessão de cinema nacional. Por que sempre escolhem os piores filmes? Volta a fervilhar sua mente. Os brancos da parede ficam mais brancos nestas noites. Pensou em ligar para alguém. Sentiu que seria meio inconveniente telefonar na alta madrugada. Que droga de vida! Lamenta não ter um amigo, um único ser com que pudesse comungar alguma intimidade não fugaz. As horas avançam e Maria continua acelerada. Um infarto, um câncer, um tombo no banheiro, um atropelamento, um tijolo sobre a cabeça, uma bactéria, um assalto, uma infecção aguda e generalizada, um afogamento repentino, um tiro nas têmporas, uma dose excessiva de comprimido. Maria pensa na morte de várias maneiras, mas não tem coragem de ir adiante. Desespera a vida; desespera mais a ideia do desaparecimento. Maria nunca alcançou a doçura. Até seu sorriso é negro. O brilho dos olhos se perde nas imensas e negras olheiras. Ela admite a si mesma que assim não dá mais, que se faz necessário achar uma rota de fuga, uma alternativa para tanto desespero. Os pássaros começam a cantar no pé de limoeiro que plantou na janela de seu quarto. A claridade começa a tingir o espaço. A chuva fina escorre pela vidraça. Maria levanta com a cabeça pesada e o corpo alquebrado. Já na cozinha, começa a fazer o café da manhã. Uma imensa xícara de café preto para espantar o cansaço. No quarto, a televisão anuncia que a semana toda será de chuva, que o índice de desemprego aumentou, que uma mãe atirou seu filho, com apenas um ano e três meses, do viaduto central. Maria olha para dentro da xícara de café. Fica alguns minutos se procurando dentro da negritude matinal.
(Marco Vasques)
Quando não consigo externar sentimentos e tudo por dentro se funde. Confunde a minha mente. Eu me rendo à tristeza e sigo a correnteza. Pois a única certeza que possuo é a incerteza.
(Noemi Prates)
Meu chá esfriou, e eu me pergunto: Por quê me levantei da cama?
A chuva embaça a minha janela; não consigo ver nada.
E mesmo que pudesse, tudo estaria cinza..
Mas seu retrato na parede, me faz lembrar que não é tão ruim,
Não é tão ruim..
(Dido)
Perdi o gosto bom das coisas, ela disse no começo da manhã. Fiquei pouco atônita, pouco pensativa, como assim? Perdi, ela disse. No final do dia, depois de horas de trabalho, alguma desilusão, dor nas costas por passar mais de oito horas sentada, o corpo doido por uma água morna, os pés implorando uma pantufa cheia de aconchego, a barriga pedindo por favor uma comida boa e honesta, o coração pulando em busca de um porto, eu entendo. Entendo o gosto dilacerado ou perdido ao longo do dia. Mas uma manhã como essa, pura e nova e fresca e tão azul, de um azul bonito e quente, um azul vivo e limpo, não sei.
(Clarissa Corrêa)
Tem que viver, tem que se amar;
tem que querer se ajudar.
Tem que correr, tem que suar,
pra alcançar nessa vida um lugar..
(Dina Di)
Decifra-me, mas não me conclua; eu posso te surpreender.
(Clarice Lispector)
Não há nada que não se consiga com a força de vontade, a bondade, e principalmente, com o amor.
(Marcus Tullius Cícero)
Sem sol dentro do peito,
só o vento gelado.
Recheio de abacaxi
eu pensava que era morango.
Posso voar por todo céu
mas permaneço de muro em muro,
preso no limite imaginário
de um viveiro psicológico.
Sentado na varanda
coloquei as cartas sobre a mesa,
Organizando os pensamentos
nas prateleiras da cabeça.
Os pássaros voltaram a cantar
quando voltei a me amar
O por do sol está lá,
to conseguindo enxergar.
E amanha?...
(Ramon Btx)
Me traz o teu sossego,
atrasa o meu relógio,
acalma a minha pressa.
Me dá sua palavra,
sussurra em meu ouvido, 
só o que me interessa.
(Lenine)

domingo, 16 de março de 2014

A noite fria chama teu nome, mas ninguém responde, sozinha num quarto a espera de um telefonema ou de uma mensagem que não vem mais. Todas as noites são iguais, todos os dias também. Sempre te avisei para não me acostumar com esses mimos bobos, mas você insistia. E agora estou aqui sentindo a falta dos tais mimos que não são mais meus.

(Vandélia Macedo)